Introdução
O divórcio é um tema complexo e multifacetado na Bíblia, abordado de diferentes formas no Antigo e no Novo Testamento. Este artigo examina as regulamentações e interpretações sobre o divórcio, desde a legislação mosaica até as palavras de Jesus e Paulo, incluindo as diferentes escolas rabínicas e a aplicação prática para líderes religiosos.
Antigo Testamento – Legislação Mosaica
A regulamentação do divórcio começa em Deuteronômio 24:1-4, onde um homem pode entregar uma carta de divórcio à sua esposa se ela “não encontrar favor em seus olhos” devido a algo “indecente”. As interpretações sobre o que constitui essa indecência variam entre comportamento sexual ilícito, inadequação geral, defeitos físicos, não cumprimento de tarefas domésticas e infertilidade.
A introdução do certificado de divórcio visava proteger os direitos das mulheres, assegurando-lhes uma documentação formal ao invés de serem simplesmente abandonadas.
Direitos Conjugais
Em Êxodo 21:10-11, a lei estabelece que um homem deve prover comida, vestimenta e direitos conjugais à sua esposa. A falta de qualquer um desses elementos justifica o divórcio. Se isso se aplica a uma esposa-escrava, quanto mais a uma esposa livre.
Mulheres Capturadas em Guerra
Deuteronômio 21:10-14 regula a situação das mulheres capturadas em guerra. Um homem que se casa com uma prisioneira de guerra e depois não a deseja mais deve deixá-la ir livremente, sem vendê-la ou tratá-la como escrava, reconhecendo sua dignidade e direitos.
Escolas Rabínicas
Antes da era cristã, duas principais escolas rabínicas, Shamai e Hilel, tinham visões contrastantes sobre o divórcio. Shamai permitia o divórcio apenas em casos de adultério, enquanto Hilel aceitava praticamente qualquer motivo para a separação, incluindo motivos triviais como a mulher queimar a comida.
Novo Testamento – Evangelho de Marcos
Marcos, geralmente considerado o evangelho mais antigo, apresenta uma visão rigorosa sobre o divórcio, proibindo-o completamente (Marcos 10:2-12). Jesus afirma que qualquer homem que se divorcia e casa novamente comete adultério, assim como a mulher que se separa e se casa novamente. A falta de uma exceção sugere que era algo conhecido por seus leitores.
Evangelho de Lucas
Lucas 16:18 segue a mesma linha de Marcos, proibindo o divórcio e afirmando que tanto o divorciado quanto quem se casa com o divorciado comete adultério. Para Lucas, não há inocentes no divórcio, todos são culpados perante Jesus.
Evangelho de Mateus
Mateus permite o divórcio apenas em casos de infidelidade conjugal (Mateus 19:3-12). Jesus adere à posição da escola de Shamai, aceitando o divórcio somente por “porneia”, termo grego que pode significar fornicação, imoralidade sexual ou desonestidade habitual.
Apóstolo Paulo
Paulo aborda o divórcio em 1 Coríntios 7:9-16. Ele reafirma a posição de Jesus de que os casados não devem se separar, mas faz uma exceção para casos em que o cônjuge não crente decide partir. Neste caso, o crente está livre da servidão, sugerindo a possibilidade de um novo casamento.
Carta aos Romanos
Em Romanos 7:1-3, Paulo usa a analogia do casamento para explicar a libertação da lei através da morte de Cristo. Ele reforça que a única vez que um novo casamento é claramente permitido é quando um dos cônjuges falece.
Pastores e o Novo Casamento
1 Timóteo 3:2 e Tito 1:6 estabelecem que os líderes da igreja devem ser “maridos de uma só mulher”. Existem duas interpretações principais: a proibição de poligamia ou a restrição de liderança a homens que não tenham se divorciado e casado novamente, exceto em casos permitidos pelas Escrituras.
A Visão de Deus Sobre o Divórcio
Malaquias 2:15-16 expressa claramente que Deus odeia o divórcio. Jesus reafirma que o divórcio foi permitido pela dureza dos corações humanos, mas não é o ideal de Deus, que vê o casamento como uma união indissolúvel.
Conclusão
A Bíblia apresenta uma visão complexa e multifacetada sobre o divórcio. Embora haja permissão em casos específicos, como infidelidade ou abandono por um cônjuge não crente, o ideal bíblico é a preservação do casamento. Este artigo revela a importância de compreender o contexto e a aplicação das Escrituras para abordar o divórcio de maneira equilibrada e justa.